19 de novembro de 2024
01 de março de 2024
Associativismo – por que é tão difícil praticar?
Qual a importância do associativismo? Associar-se é uma prática tão antiga como a existência da humanidade. A evolução humana está intrinsecamente ligada à prática do Associativismo. Vejamos, a seguir, alguns exemplos: No período neolítico, os homens pré-históricos, em grupos, caçavam mamutes utilizando-se de armadilhas, sendo que a mais comum consistia em forçar o animal a cair do topo de morros ou montanhas. A carne era usada para a alimentação e a pele do animal para a confecção de vestimentas.
Já no Século XX, tivemos a maior demonstração da força do associativismo quando por ocasião da Segunda Grande Guerra, houve a associação de 49 países, que passou a ser denominada “coalizão”, que tinha como objetivo derrotar a Alemanha e seus aliados. Sabemos que os países que formaram a coalizão foram vencedores – se é que em uma guerra alguém pode ser declarado vencedor – mas, de qualquer forma, o mundo geograficamente é o que é em função dessa associação de países.
A Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), o G-8 (Grupo dos Países mais Industrializados do Mundo), O Nafta (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio), a União Europeia – União dos Países Europeus, o Mercosul (Mercado Comum do Sul) e tantos outros agrupamentos de países representam a base da organização econômica e política do mundo moderno e esses grupos nada mais são do que a prática associativista para a busca de objetivos comuns.
Hitler não venceu a Segunda Grande Guerra e, por isso, a democracia é a política predominante. Os países se organizam em bloco e, por consequência, são mais fortes e mais competitivos. No entanto, havemos de nos perguntar: Por que é tão difícil praticar o Associativismo?
É fato que fiz essa introdução não para fazer uma revisão da História apenas para dar exemplos de grandes acontecimentos da Humanidade, metaforicamente, para poder discorrer sobre o Associativismo Empresarial, sobretudo o de pequenas e médias empresas que se unem para fortalecer suas ações. Os modelos de Associativismo da atualidade não têm representatividade política, regulamentação governamental nem interagem de maneira eficiente entre suas organizações.
O Brasil tem hoje organizações associativas em praticamente todos os segmentos econômicos, tais como: varejo alimentar, farmácias, padarias, pet shops, lojas de material de construção, autopeças, revenda de produtos de beleza, de produtos veterinários, etc. Enumerei essas atividades apenas no âmbito comercial. Mas, se incluirmos os processos industriais, a relação torna-se infinita, pois os APL (Arranjos Produtivos Locais), programa coordenado pelo Sebrae que tem organizado modelos associativos de Indústrias de diversos setores em todas as regiões, difundindo o associativismo de forma individualizada por segmento em todo o Brasil.
Entretanto, dificilmente vemos essas associações se organizarem em bloco para defender as reivindicações coletivas. Porém, antes de discorrer sobre a organização do associativismo, volto a minha indagação central: Por que é tão difícil praticar o Associativismo?
Certamente, o maior problema do associativismo é comportamental, pois mesmo sendo uma organização de empresas, os objetivos que levam o empresário a aderir ao modelo não são coletivos, e sim individuais. Mesmo não sendo politicamente correto e mesmo as pessoas não admitindo publicamente, é fato que os desejos individuais se sobrepõem aos anseios coletivos.
Vale salientar que não estou falando de direito e sim de desejo. O indivíduo deseja que sua empresa tenha mais sucesso do que as concorrentes; deseja que o seu país tenha mais reservas naturais do que as demais nações; quer que sua família seja mais harmoniosa que as outras; também espera que seu filho seja o mais inteligente da classe do que os outros; ao jogar na loteria, o indivíduo tem o desejo de ganhar o prêmio sozinho…enfim, a humanidade é individualista e o homem faz uso do coletivo quando pretende alcançar um objetivo individual.
Se aceitarmos como verdadeiras as explanações acima, estaremos afirmando que o associativismo empresarial é formado por um grupo de pessoas que se unem para o fortalecimento individual de cada integrante. Contudo, sabemos que isso não é tão simples assim, porque mesmo que todos tenham os mesmos anseios, o entendimento de como alcançá-los é individualizado.
Enquanto alguns acreditam que o Mercado irá comportar-se de uma forma, outros têm a certeza de que se comportará de outra; enquanto um grupo tem a certeza de que a associação deveria investir em treinamento, o outro prefere investir em mídia e um terceiro grupo entende que o importante é estabelecer parcerias com os fornecedores para otimizar o poder de compra; enquanto uns acreditam que a contribuição mensal está muito alta, outros desejam que o investimento seja maior para que os objetivos sejam alcançados com mais rapidez. Esse é o comportamento observado no Associativismo Empresarial, no clube que você frequenta ou no condomínio onde você mora. Ou seja, em todos os acontecimentos, a sensação que se tem é que a minha verdade é a que deve prevalecer, a minha razão é mais factível que a do meu semelhante.
Particularmente, o que precisamos aprender no Associativismo, sobretudo no mundo dos negócios, é que não existe uma verdade única. É possível que todos os participantes tenham razão, mas como não é possível que uma associação atue em tantas frentes como as desejáveis pelos participantes, é fundamental estabelecer prioridades de forma correta, e para isso é essencial ficar atento ao Mercado – que é quem dita as regras, que é o único dono da verdade.
O fato é que este senhor chamado Mercado nunca erra. Observe como era o comportamento do Mercado em tempos passados. Veja quais foram as mudanças que ocorreram na sua área de atuação e faça uma comparação com o momento atual do senhor Mercado. Note que esse tal de senhor Mercado vai se adaptando aos desejos de outros senhores: o Senhor Cliente, o Senhor Governo, os senhores órgãos regulatórios. Pergunte ao senhor Mercado qual será o desejo do cliente daqui a cinco anos, o que os governantes irão exigir das empresas e quais serão as próximas regulamentações do setor para o qual você atua.
Certamente não precisaremos fazer nenhum exercício de futurologia para responder a esses questionamentos, pois basta observarmos que hoje o cliente quer mais do que queria há 5 anos, os governantes exigem mais do que exigiam e a regulamentação é mais rígida do que na década passada. E, como o processo é evolutivo, certamente a cobrança e as exigências continuarão crescendo. Tenha certeza de que esta é a única verdade e as associações deverão estabelecer suas prioridades baseadas com olhos no futuro.
Edison Tamascia presidente da Febrafar e da Farmarcas. Faz parte de diversos comitês que debatem o mercado farmacêutico e é um dos principais defensores do modelo associativista para empresas no Brasil.