24 de junho de 2025

Demissão silenciosa – um problema que muitas empresas estão enfrentando sem saber 

Nos últimos anos, um fenômeno silencioso tem ganhado cada vez mais espaço nas empresas: a demissão silenciosa — ou “quiet quitting”, termo que se popularizou com o crescimento de discussões sobre saúde mental no ambiente corporativo. Este movimento é caracterizado pelo afastamento emocional gradual de um colaborador, que continua presente fisicamente no trabalho, mas se desconecta das suas responsabilidades e das metas da empresa.

Viviane Alvarenga, diretora de Gente e Gestão da Febrafar e Farmarcas, explica que esse fenômeno vai além da simples preguiça ou desinteresse: “A demissão silenciosa é resultado de um esgotamento emocional, de uma desconexão com a empresa, e de uma falta de propósito no trabalho. Não é uma questão de desleixo, mas de uma ausência de envolvimento emocional”, afirma Viviane.

Os dados sobre esse fenômeno são alarmantes. Em uma pesquisa realizada pela Flash, em parceria com a FGV EAESP e o Talenses Group, foi revelado que 75% dos brasileiros admitiram ter praticado quiet quitting ao menos uma vez nos últimos três meses. Mais preocupante ainda é que 23% disseram fazer isso de forma frequente. 

Viviane destaca que esses números refletem uma realidade mais ampla: “Este não é um problema exclusivo do Brasil. Globalmente, 59% dos profissionais estão em um estado de desconexão emocional com o trabalho, o que afeta diretamente a produtividade e o engajamento nas organizações.”

O papel crucial da liderança

A chave para combater a demissão silenciosa está, segundo Viviane, na forma como as lideranças lidam com suas equipes. “Liderar não é apenas comandar, é criar conexões reais com as pessoas. A escuta ativa, por exemplo, é fundamental para entender as necessidades e preocupações dos colaboradores antes que eles se desconectem totalmente.”

Para combater o quiet quitting, a diretora de Gente e Gestão recomenda uma série de ações práticas para os gestores:

  • Escutar de verdade: “Líderes devem substituir o comando pela escuta. Escutar com empatia e sem julgamentos pode revelar muitos problemas ocultos”, explica Viviane.
  • Criar ambientes emocionalmente seguros: “Em ambientes onde as pessoas têm medo de errar, elas se retraem. É preciso cultivar um espaço onde todos se sintam seguros para se expressar”, afirma.
  • Investir em líderes transformacionais: “Líderes que inspiram, reconhecem o esforço e sabem adaptar a comunicação de acordo com as necessidades de cada colaborador criam um ambiente mais acolhedor e engajante.”
  • Desenvolvimento contínuo: “O desenvolvimento não deve ser visto apenas como uma questão de carreira, mas como um investimento no crescimento pessoal e profissional do colaborador”, aponta Viviane.
  • Reconhecer além da remuneração: Para Viviane, a satisfação no trabalho vai muito além do salário. “É importante que os colaboradores se sintam valorizados por seu trabalho. Às vezes, um simples ‘obrigado’ ou um reconhecimento público têm um impacto maior do que qualquer bônus”, diz.

Como identificar os sinais da demissão silenciosa?

A demissão silenciosa não acontece de forma repentina. Existem sinais que, se identificados a tempo, podem ser decisivos para reverter o quadro. Entre os sinais, Viviane destaca:

  • Queda no entusiasmo ou interesse em reuniões
  • Participação mínima em conversas ou projetos
  • Entregas feitas no limite do prazo e sem profundidade
  • Desinteresse pelas conquistas da equipe
  • Redução nas sugestões ou iniciativas

“Esses sinais podem ser indicadores de que o colaborador está se afastando emocionalmente, e é fundamental que a liderança tome a iniciativa de conversar e tentar entender a causa desse comportamento”, afirma Viviane.

Uma das formas de prevenir a demissão silenciosa é investir em pesquisas internas, mesmo que simples, como formulários de feedback. “Essas ferramentas podem ajudar a identificar áreas que precisam de melhoria, e isso vai muito além de garantir que o trabalho está sendo feito. Trata-se de um cuidado contínuo com o bem-estar dos colaboradores”, completa.

Viviane também reforça que as empresas precisam olhar para a demissão silenciosa não como um problema isolado, mas como um sintoma de algo maior. “A demissão silenciosa é reflexo de um ambiente corporativo que não está atendendo às necessidades emocionais dos colaboradores. E, como todo sintoma, precisa ser compreendido em sua totalidade”, conclui.

O impacto na cultura e sustentabilidade dos negócios

Empresas que enfrentam o fenômeno da demissão silenciosa sem agir correm o risco de perder talentos preciosos e de afetar a sua própria sustentabilidade. “O engajamento não vem de processos, mas de relações. E empresas que conseguem cultivar esse engajamento criam um ambiente de pertencimento, onde as pessoas não estão apenas entregando o mínimo, mas dando o seu melhor”, afirma Viviane.

Ao investir em uma liderança consciente e na criação de espaços para pertencimento, as empresas podem não só reverter a demissão silenciosa, mas também se tornar exemplos de boas práticas de gestão, inovação e longevidade.

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